Tensão na Ucrânia pressiona cotação do petróleo e inflação
14 fevereiro 2022
O preço do petróleo já avançou 18,2% em 2022 e, diante da ameaça de invasão da Ucrânia pela Rússia, a cotação do barril atingiu US$ 95 na sexta-feira. Segundo economistas, o preço poderá chegar a US$ 120 – há menos de dois anos, no início da pandemia, estava em torno de US$20. A disparada das cotações no mercado externo levou a um aumento de 47,5% no preço da gasolina no Brasil em 2021, pressionando a inflação. Agora, com a aproximação das eleições, o governo estuda medidas, como o subsídio ao diesel e a criação de um fundo de estabilização, para tentar amenizar o problema. No Senado, uma PEC, cujo impacto fiscal pode chegar a R$ 100 bilhões, quer cortar tributos de combustíveis, criar o auxílio-diesel, subsidiar o transporte público e reforçar o valegás para famílias de baixa renda.
Depois de subir 54% em 2021 – o que resultou em uma alta de 47,5% no preço da gasolina no Brasil, tornando-se umas das principais fontes de pressão inflacionária –, o petróleo já avançou mais 18,2% neste começo de ano. Na sexta-feira, o barril atingiu US$ 95 e, diante da ameaça da Rússia de invadir a Ucrânia, alguns economistas já falam da possibilidade de a cotação ultrapassar US$ 120.
Importante produtor de petróleo, a Rússia poderia, em meio a uma guerra, interromper o fluxo do produto – o que elevaria a cotação da commodity. “Só a expectativa de invasão já causa uma pressão nos preços. Estamos revisando nossas projeções de petróleo para incorporar essa história toda. O viés é de alta”, diz a economista-chefe da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro.
Com a expectativa de que haveria um aumento da oferta de petróleo na América do Norte e uma leve desaceleração na demanda, Alessandra projetava que o barril terminaria 2022 ao redor de US$ 65. “Esse patamar daria um bom alívio para a inflação.” Inclusive, significaria uma queda de 16% na comparação com o valor registrado no fim de 2021. O cenário, no entanto, mudou mais uma vez, e o petróleo, seu efeito na inflação e na atividade voltaram a se tornar uma preocupação para governos de todo o mundo.
Reviravoltas
Há 22 meses, sobrava petróleo no mundo. Com a pandemia e países em lockdown, a demanda pelo produto despencou em 2020, os estoques ficaram abarrotados e, de repente, era preciso pagar para armazenar o óleo – o que fez o preço do WTI (tipo de petróleo produzido nos EUA) retrair. O barril do Brent (um petróleo mais leve e que serve como principal referência global) caiu na época para menos de US$ 20 – a primeira vez desde 2001 –, e a cotação parecia longe de se tornar um problema.
A demanda, porém, voltou muito mais rápido do que se previa, impulsionada por estímulos econômicos adotados por vários governos, e os países produtores não acompanharam o ritmo. Agora, quando se esperava uma acomodação, o preço voltou a disparar.
“Se houver um conflito, o céu é o limite (para a cotação). Caso não haja, provavelmente estamos perto do pico. A conclusão é de que, nos próximos meses, o preço ainda vai ser alto. Se não tiver guerra e o Banco Central dos EUA aumentar o juro, é possível que a demanda esfrie um pouco”, diz José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados. •
Autor/Veículo: O Estado de S.Paulo