Potencial de reúso ainda é pouco explorado
15 maio 2015
A crise de abastecimento de água na Grande São Paulo e na região metropolitana de Campinas, os dois maiores polos industriais do Estado, já afeta mais de 56 mil indústrias nas duas regiões. Juntas, essas empresas respondem por 50% do PIB industrial paulista e são responsáveis por 1,9 milhão de empregos diretos, segundo mapeamento feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
“A escassez hídrica se soma a um cenário de crise econômica em âmbito nacional, além do encarecimento dos custos com outros insumos, como a energia elétrica”, diz Anicia Pio, gerente do departamento de meio ambiente da Fiesp. A entidade vem orientando as empresas associadas a buscar soluções alternativas para lidar com a escassez de água. Uma delas é a água de reúso. Segundo a Fiesp, em torno de 65% das empresas paulistas já utilizam algum tipo de reúso em suas unidades fabris — e a iniciativa começa a ser abraçada pelas empresas de menor porte. O principal empreendimento destinado à produção de água de reúso no Hemisfério Sul é o Aquapolo, sociedade entre a Odebrecht Ambiental e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
O complexo entrou em operação em 2012 e tem capacidade instalada para produzir até 1.000 litros/segundo de água de reúso para fins industriais. A maior parte dessa água (650 litros/segundo) é consumida pelas empresas que atuam no Polo Petroquímico de Capuava, em Mauá, especialmente pela petroquímica Braskem. A Estação de Tratamento de Esgoto do ABC transforma o esgoto em água adequada para ser utilizada pelas indústrias.
O agravamento da crise hídrica fez com que o Aquapolo passasse a vender água de reúso também por eio de caminhões-pipa. A nova estratégia de negócios começou a ser posta em prática em fevereiro deste ano, e desde então o Aquapolo fornece o excedente de sua produção para clientes da Grande São Paulo, como empreendimentos imobiliários em São Paulo e Santo André, que contrataram 1.000 litros água/mês para aplicações no canteiro de obras. O sistema de fornecimento de água via caminhões-pipa também atende ao Consórcio Metropolitano 5, responsável pela construção da linha Lilás do Metrô de São Paulo.
“Começamos a olhar o fornecimento de água de reúso por meio de caminhões-pipa como uma solução possível à crise hídrica atual, e temos sido surpreendidos pela demanda”, diz Marcos Asseburg, diretor-presidente do Aquapolo Ambiental.
A Veolia, multinacional francesa de tecnologias para tratamento de água, procura aumentar sua presença em projetos de reúso. Responsável pelo tratamento das águas da região metropolitana de Paris, no Brasil a empresa fornece tecnologias para refinarias da Petrobras e empresas do setor de papel e celulose. O potencial da água de reúso é pouco explorado no Brasil, diz Ruddi de Souza, diretor geral da Veolia Water Technologies. “Em geral não existe uma cultura de reaproveitamento dos efluentes. Isso já está mudando no setor privado, mas os governos ainda têm receio de transformar esgoto em água potável”, diz.
Valor Econômico- Andrea Vialli