General Silva e Luna toma posse na Petrobras dizendo que desafio é conciliar consumidor e acionista

20 abril 2021


Em sua posse como presidente da Petrobras, o general Joaquim Silva e Luna disse na última segunda-feira (19) que um dos principais desafios de sua gestão será conciliar os interesses de consumidores e acionistas. Ele não adiantou, porém, como atingir esse resultado.

A cerimônia reforçou o avanço de militares sobre o setor de energia: ao lado de Silva e Luna, compuseram o palco os almirantes Bento Albuquerque, ministro de Minas e Energia, Rodolfo Sabóia, diretor geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), e Eduardo Bacellar Leal Ferreira, presidente do conselho da Petrobras.

Silva e Luna foi nomeado pelo conselho de administração da Petrobras na sexta (16), quase dois meses após sua indicação pelo presidente Jair Bolsonaro. Ele já vinha trabalhando na empresa, mas nesta segunda, assinou o termo de posse e recebeu o crachá da companhia.

Também tomaram posse nesta segunda os novos diretores da empresa, que terá pela primeira vez desde 2007 uma diretoria sem a presença de mulheres.

“Confesso que me sinto honrado pela confiança e impactado pela responsabilidade. Entendo que essa sensação me mantém num ponto de equilíbrio entre a ousadia e a prudência”, disse Silva e Luna. Desde já, hipoteco minha lealdade, meu senso de responsabilidade e todas as minhas energias no cumprimento dessa honrada missão.”

Em seu discurso, o novo presidente da Petrobras tentou tranquilizar investidores, ao mesmo tempo em que tocou em um ponto sensível ao presidente da República, crítico da imprevisibilidade sobre os reajustes de preços dos combustíveis.

“Não há dúvidas de que os principais desafios são: fazer a Petrobras cada vez mais forte, trabalhando com visão de futuro, com segurança, respeito ao meio ambiente, aos acionistas e à sociedade em geral, de forma a garantir o maior retorno possível ao capital empregado”, afirmou.

“E fazer tudo isso conciliando interesses de consumidores e acionistas, valorizando os nossos petroleiros, buscando reduzir volatilidade [dos preços] sem desrespeitar a paridade internacional”, completou.

Sua indicação para substituir o ex-presidente da companhia, Roberto Castello Branco, se deu em meio à escalada de preços no início do ano e gerou em investidores temor sobre novas intervenções na política de preços e levou a empresa a perder R$ 102,5 bilhões em valor de mercado em apenas dois dias.

Na cerimônia desta segunda, o ministro de Minas e Energia também sinalizou aos investidores, ao defender a manutenção do plano de venda de ativos da empresa —segundo ele, essencial para a redução da dívida e aumento da capacidade de investimento da companhia.

“[Os desinvestimentos] são fundamentais para atrair ainda mais agentes nacionais e internacionais para o setor”, afirmou. Ele defendeu também a nomeação de Luna, que nunca trabalhou no setor de petróleo, chamando o novo presidente de “gestor altamente experimentado, com ampla e diversificada atuação profissional”.

Silva e Luna indicou quatro novos diretores, em substituição aos executivos que decidiram deixar a empresa com Castello Branco. Os nomes também foram aprovados pelo conselho de administração nesta sexta. Outros quatro diretores da gestão anterior aceitaram o convite para permanecer nos cargos.

Para as vagas abertas na direção, foram nomeados apenas funcionários de carreira da Petrobras, escolhidos pelo general durante o processo de transição. Um nono executivo chegará depois, para assumir a diretoria de Governança e Conformidade.

 

A nova diretoria da Petrobras, sem mulheres

O presidente do conselho de administração da companhia disse que a lista de escolhidos de Silva e Luna “reforça o compromisso da empresa com a meritocracia”. “Ao ex-presidente Castello Branco e aos quatro diretores que hoje deixam a Petrobras, agradeço a contribuição e faço votos de sucesso e saúde”, afirmou, em uma rara referência ao ex-presidente da empresa no evento.

A cerimônia de posse foi realizada na sede da companhia, com um público restrito. A imprensa acompanhou o evento pela internet. Todos os presentes usavam máscara, mas a proteção foi retirada pelos executivos que discursaram.

Os discursos da posse agradaram o mercado financeiro, principalmente pela sinalização de que a política de alinhamento aos preços internacionais será mantida. Por volta das 15h, as ações preferenciais da empresa subiam quase 7% na Bolsa de São Paulo.

Ligado aos sindicatos de petroleiros, o Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) viu no discurso de Silva e Luna uma tentativa de distensionar os conflitos entre governo e acionistas.

“A favor desse objetivo pesam um conselho de administração e uma direção executiva compostos por gestores cuja trajetória está mais ligada à indústria petrolífera e à Petrobras do que ao mercado financeiro e de capitais”, disse o pesquisador do Ineep William Nozaki.

“Contra esse objetivo pesam a manutenção do atual plano estratégico e das política de desinvestimentos e de preços dos combustíveis”, completou.

Desde que teve sua nomeação aprovada pelo conselho, Silva e Luna e sua equipe de transição vêm trabalhando de forma presencial, ao contrário de Castello Branco, que estava em home office desde o início da pandemia.

Segundo fontes, ele deixou o alto escalão da companhia à vontade para decidir de onde trabalhar até que a empresa decida se vai estender o período de home office, que está previsto para terminar em maio. Sua primeira reunião de diretoria deve ocorrer na semana que vem.

A adoção do home office e o elevado salário também foram usados por Bolsonaro como justificativas para a demissão de Castello Branco, anunciada em fevereiro, em meio à escalada dos preços dos combustíveis do início do ano.

Autor/Veículo: Folha de S.Paulo

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